ADEUS ESCRAVIDÃO

Data 22/07/2008 01:00:58 | Tópico: Poemas -> Reflexão

A criança chorava,
A mulher teimava,
O feijão queimava,
A mulher apanhava.

Sol a pino,
Só se viam panelas sujas,
Roupas mijadas,
Um desatino!

Argola na mão
De sabão,
O tapete a ser batido
Como oração
De todas as manhãs;
A cozinha,
Seu altar se fez,
Engordurada prisão.

O domingo de feira,
O passeio no parque,
O dia dela e de mais ninguém.
O dia concedido como réquiem,
A atarefada mulher.

O seu tempo chegou!
A criança já não chora em seus braços!
Já não é a deusa da cozinha!
Tem direito de encher os pulmões de fumaça!
Participar das estatísticas,
Desfrutar do prazer do sexo da descasada,
Dar adeus aos tempos de escrava!

Nas ruas,
As neuroses,
Já andam de busto grande.

Já tem todos os direitos
Ao supremo prazer,
Já tem todos os direitos
Ao supremo sofrimento,
Já tem todos os direitos
A cara metade do fruto podre.



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