Já não pertenço aqui

Data 22/07/2008 08:43:36 | Tópico: Textos

Fogem-me as horas por entre penhascos de pensamentos inférteis, já não pertenço aqui. O rio segue sem parar colhendo os sorrisos mais bonitos, o meu ficou cansado, mantenho-o agarrado nas pontas à lua para que não se desmanche. Está tudo menos brilhante, mas mais claro e sereno. A época de ventos, fustigante, deu lugar a uma acalmia pegajosa de palavras de cortesia. Ainda ouço o eco dos gritos que se soltaram de mim quando me sentia fera, selvagem, sem dono, sem destino. Cortei as garras, coloquei um açaimo no meu rosto e uma coleira a dizer o meu nome. Agora já sabem quem eu sou, domestiquei-me sem piedade, foi o castigo que encontrei para me punir por actos infames a que me prestei. Sei agora qual o meu destino, a morte das palavras, a morte dos sentimentos, passarei apenas a partilhar as folhas de papel em branco com quem me acolher e, com pena, me colocar uma trela, para que o meu instinto não se solte, outra vez.




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=45190