Pantógrafo da Noite

Data 08/03/2007 08:10:33 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Só a noite
encontra cintilante
a cirandeira madrugada ...
Só a noite
recorta a lazer, p’lo pantógrafo, sobre a chapa,
os veios, vivos sulcos de uma prolongada jornada
- no vinil - anil de corpos ausentes d'alvorada.

Só a noite
mastiga a Lua
atapetada em espessas tristezas algodoadas...
Que a Lua ....
desliza varal de luz, pálida e crua,
contida,
cerzida de urtigas e d’esverdeadas algas.

Só a noite
desce sobre o tecido liso, linho alvo do corpo,
em digital desenho, num traçado nervurado, antigo,
de nós ... desenhado a pós de giz. Oferta!
Ardósia pedra …
Um caminho cartografado a lento fogo de forno.
No perfil e no contorno.
Só na noite
me torno Fada viajante dentro do meu próprio sonho.

Só na noite
a noite calcorreia, afila e pisa
as mágoas
esburacadas – veredas intempestiva d’alma
(que de tão sofrida berra e não se cala).

Só na noite tu chegas,
vindo de um Tempo antigo,
do umbigo d’encantadas florestas
Druida, Mago, Aladino (sempre eterno menino)…
Desembocas na madrugada, saído de lanterna encantada…

Só na noite
a Lua, desce redonda, luminosa, fragilizada, nua,
sobre o alabardo falo do Mar (entontecido)
... Onde finalmente tudo tem sentido.
(Tu és o Mar, meu querido …)

Só na noite ...
Sinto que se fossem de algodão
todas as palavras que escrevo
e tua fosse a boca
que me beija nos sonho de madrugada
seriam meus os lábios teus
e tu a minha estrada ...

Só na noite
solto o verbo
no alinhamento do adjectivo.
Só na noite ...


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