CARTA-POEMA EM TOM DE DESPEDIDA

Data 27/07/2008 15:07:31 | Tópico: Poemas

penso tudo nesta hora em que a partida se aproxima

penso o muito que não fiz e o nada que por aqui deixo

parto de mãos vazias como cheguei

só levo um pouco de crepúsculo no bolso da minha jaqueta rasgada

deste mar no entanto não levarei nada

nada nada nada

as lentes dos meus óculos talvez

à minha revelia levem alguma paisagem

que os meus olhos distraídos e fracos deixaram de ver

abre bem as janelas

para que o cheiro do meu cachimbo desapareça da casa

cuida de apagar as minhas digitais do teu corpo

adeus é sempre adeus e não carece de riqueza de detalhes

se por acaso a música que inventei numa flauta imaginária

incomodar os teus ouvidos

é fácil destruí-la:

basta colocar no aparelho um rock qualquer

no mais alto volume e acompanhá-lo com palavras obscenas

maldizendo o homem que fui

não te esqueças de pedir ao diabo que me carregue

no próximo inverno prometo quebrar teu sossego

enviando notícias minhas do fim do mundo talvez

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júlio s.


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