Só tenho de meu
o pedacinho de Céu que a minha janela enquadra. Às vezes anil, outras ardil de súbita nortada... Na moldura incerta da janela aberta,
espreita, fugaz, o Sol. Às vezes ardente, outras dormente, sob leve lençol
de linho de nuvens ou fofas penugens roubadas às aves... Na minha clausura guardo a doce ventura de ter liberdade de olhar as estrelas
a fugir da tela do meu quadro aberto...
E a arte suma que matiza a bruma quando a noite está perto, toca-me os sentidos nos paraísos perdidos
dos sonhos que embalo. E uma estrela traz
mensagens de Paz no seu ténue halo... O pedacinho de Céu
que chamo de meu, tem brilhos de prata, quando a Lua vem
e acha por bem ver do que se trata por trás da moldura de onde fulguram os meus olhos ávidos, de vida sentida, de felicidade intuída nos jardins mais áridos. Se a noite escurece,
o cenário emudece p'ra lá da vidraça... em quedo respeito, enquanto eu espreito
que o dia se faça. E se a chuva brinca e o meu quadro pinta, ganho uma aguarela!
E encontro um tesouro com brilhos de ouro, na íris da tela... O pedacinho de Céu
que a minha janela recorta, é meu e só meu. E só eu sei a certeza
dessa incerta riqueza...
(Poema escrito na ternura dos meus longínquos quinze anos... com algumas revisões posteriores, confesso )
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