
O ERMITÃO DO TERRENO BALDIO
Data 29/07/2008 19:18:32 | Tópico: Poemas
| De minha janela entreaberta Acostumei A admirar o ermitério Erguido ao lado do prédio; Emergia dali, A qualquer hora do dia ou da noite, Pré-histórica criatura.
Teria alma? Haveria emoções naquela vida? Haveria importância nas coisas que fazia?
Apesar de todos os vizinhos Conhecerem o ermitão, Falarem dele, Caçoarem dele, Nunca ninguém falou com ele. Permaneceu impávido e inviolável.
Passei bastante tempo de minha juventude, Espionando meu estranho vizinho. Nunca o vi chorar. Nunca o vi sorrir.
Nas grandes tempestades, Sobre o impacto dos trovões, Dava-me coragem e tristeza, Ver o ermitão agachado, Impassível, Em sua rústica vivenda.
Quando a insônia Tomava conta das minhas madrugadas, Abria minha janela, Lá estava o ermitão, Saindo ou chegando, De suas solitárias caminhadas Por estas horas, Soturnas ruas da cidade.
Um dia, Como outro qualquer, O ermitão teve que se mudar dali. Sepultaram seu ermitério Sob lajes voluptuosas, Onde concumbinariam o gregarianismo E o falatório inconseqüente eternamente.
A última notícia Que tive do ermitão dizia: Provisoriamente erguera Seu ermitério no coreto da praça.
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