carta aberta ao meu leitor

Data 01/08/2008 12:41:08 | Tópico: Mensagens

já nada faço para que me leias, não preciso de um público pago e, ainda assim, escrevo, escrevo e escrevo porque as letras são o meu almoço e as palavras o meu jantar, tenho ainda direito a um pequeno almoço e a um lanche que são as leituras obrigatórias. já não me interessa que me idolatres, não quero saber de autógrafos ou de frases ditas de boca em boca e creio que me morreu a necessidade de te ter desse lado. perdoa-me. perdoa-me leitor mas não me incomodo mais com o teu bem estar, afinal o que escrevo nunca foi uma sala de hospital onde te curam as feridas, nunca foi um consultório, foi a minha casa e tu não sabias estar nela. eu abria-te a porta e tu não limpavas os pés e fazias das minhas palavras aquelas que querias ouvir. perdoa-me se não te disse antes mas nada do que te escrevi te era direccionado. era apenas a minha forma de estar sozinha, o modo que arranjei de não me fazer falta e, sempre soube, a minha forma de estar viva. tu mataste-me tantas vezes que nem imaginas!... rasgavas os quadros que tinha pintado, ferias o meu amor com murros em forma de comentários de apreço. eu nunca precisei do teu apreço mas tu nunca entendeste. eu nunca precisei do embalo, eu só precisava que não fizesses de mim a vítima numa novela que eu não escrevi. perdoa-me estimado leitor, perdoa-me esta distância mas de me teres morto tanto só me restou a necessidade de me afastar um pouco, tanto que agora me sento na lua e escrevo com o cotovelo apoiado em marte. foi pena, é pena, não puder entender-te ou, quanto muito, conquistar-te mas dou pontapés à terra e só lhe vejo o pacífico.
cansei-me de pessoas, cansei-me de poemas e ainda assim não vivo sem as dizer em contos. e agora que te disse toda a mágoa que te tinha, agora que me odeias tanto que não mais me pedirás para voltar, deixa-me só recordar-te a minha sinceridade na esperança que ela ao menos me sirva de álibi no crime que eu não cometi.
fim.



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