O pedacim de chão de meu pai

Data 06/08/2008 02:07:25 | Tópico: Textos -> Outros

O pedacim de chão de meu pai


Bendito pau de arara que trouxe meu pai do agreste paraibano,para ser servente de pedreiro no prédio que ele ajudou a construir para depois virar porteiro e constituir a família que ele tanto quis! Dois filhos lhe vieram de uma mãe gaúcha conhecida no terceiro passeio que fizera ao Cristo Redentor.Um virou músico,que toca agora lá no céu e, esta que ora escreve cismou de ser poeta dessas que fala com gosto da terra de seu pai...
-Se meu pai fosse pistoleiro eu conhecia uma arma minha filha! Teu pai sendo porteiro,tu tens que saber trocar carrapeta,que conversa é essa de não vou ? ele me diz
-Ah,pai,isso é coisa chata! Me conte uns causos de lá do sertão que eu gosto mais...
-Sim,eu conto e tu aprendes,feito? perguntou
-Pronto!Está feito!
Cinqüenta anos de serviços prestados cuidando o patrimônio dos outros, muito bem,dirigir ele nunca soube nada,só tirou carteira achando que manobrava bem.O dia em que comprou o fusquinha branco ano 70 foi muito temeroso,sua direção era como um “martelo agalopado”,quem é cordelista sabe do que falo,foram duas alegrias:ver o carro comprado e um mês depois vê-lo vendido.
Mas ontem,com a ajuda dele depois de muito papo e duas long necks fizemos esta toada aqui,minha mãe até que gostou dessa vez...


Pedacim de chão


Se arrodeio muito in fora,
Fico inté desleriado
O meu canto é um umbuzeiro
Supricano o meu sertão
Tem quem faz rodagem grandi
Em riba dum caminhão
Garra o mundo todo e vorta
Mode morrer no torrão
Eu num largo o leito seco
Desse rio pertim de casa
Nem ingá que tá florada
Neste pedacim de chão
Cum a fulô de aroeira
Assobio e vivo prosa
Baraúna tem de tosa
Dando graça nos quinhão
Macaxeira chama a enxada
Pra enchê uns dez balaio
Numa jura santa eu máio
Inté que chova o feijão
Tem quem fale que tá brabo
Que a labuta é cara e seca.
Que se meta lá nos raios
Pra dançá xote cum o cão
Nesse gaio eu num vou não
Só vou bater com as biela
Neste meu solinho santo
Que aqui deixo meu pranto
Nunca ao gosto do fregueis
Sendo pra morrê de bruto
Eu só morro é dando fruto
Caducano e germinando
Onde minha mãe me feiz...


Nina Araújo e Zé Valdemar





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