
Elogio fúnebre a um NADA...
Data 11/03/2007 13:41:59 | Tópico: Poemas
| Elogio fúnebre a um NADA...
Não és nada e nunca foste nada para os outros que são tudo para ti. Nem mesmo aquele ínfimo pedaço que de ti deste julgando ser o teu maior pedaço chegou para preencher algum espaço no céu com o teu nome.
És um vazio na terra que nada tem por dentro para além de sentimentos ocos e emoções emprestadas . Não tens vida própria e vives à custa dos outros esperando alimentar os teus sonhos com as migalhas que os outros te dão em troca do pouco que lhes dás.
Depois é ver-te a escrever como louca a pensar que alguém escuta as tuas palavras e só porque as carregas com toda as tuas forças no papel julgas estupidamente que podes assim deixar alguma marca. Mas não... Digo-te que não deixas nem um traço porque és apenas pó e o vento sopra-te rapidamente da folha sem remorso algum.
Não amas e nem sequer podes mais amar com esse coração assim desfeito por tantos medos aguçados. É que tu sabes bem que assustas qualquer sentimento que passeie alegremente pelo teu peito com todo esse medo que tens colado a ti e nem sequer te importas.
Já não enfrentas o mundo... Se é que alguma vez o enfrentaste de frente porque sempre te vi fugir como um cachorro assustado. Já não sabes como se luta porque te esqueceste como isso se faz de tanto estares enfiada nesse teu buraco seguro cercada de fantasias.
Esperneias... Gritas e choras e enquanto te debates sozinha por entre dúvidas e certezas nos teus pensamentos mal amanhados vais suplicando como um peixe fora de água
que te deixem ao menos respirar.
Então, hoje sei que olhas sufocada para aquela caneta que tantas vezes te fez sorrir e até ela baixa os olhos perante toda essa tristeza que adivinha estar estampada nesse teu rosto. E tal como tantos outros ela também já se sente enfadada das tuas lamúrias sem nexo que esculpes com as tuas mãos nas curvas da poesia morta. Agora ela só quer procurar outros poetas que saibam celebrar com as palavras essa vida que tu já não tens nos teus dedos.
Daniela Pereira
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