De como tudo aconteceu
Data 09/08/2008 17:42:29 | Tópico: Contos
| Numa hora lírica de um dia cinza, tão logo nasceu e era purpurina prenda à morte prometida, na pessoa de um cavalheiro nobre que dentro em breve bailaria, como um cisne arrogante, nas águas imensas que lambem todas as infâncias, apenas para que a alvura divina em forma de menina lhe atendesse os desejos.
Tornou-se moça com o testemunho das escuras oscilações dos dias imprestáveis e ensaiou reanimações de sonhos dormentes, com um sopro leviano valsando em seus lábios, mas não encontrou um meio generoso sequer que lhe pudesse alimentar o desejo indescritível de esquecer-se virgem.
Às vésperas do esperado infortúnio, um sorriso infantil renasceu em seu rosto; lhe roubou temores; desalojou do pouso febril as perturbações sonâmbulas que lhe impediram desde o berço, a felicidade: vestiu a alma de brilhos mundanos, amou os relevos do seu corpo imaginando mil homens impossíveis, executou com as próprias mãos o passo asqueroso há muito temido, proferiu maldições em nome da glória, violentou a graça pura dos jardins, maculou a ária sacra com pesadas pedras nos vitrais e pouco antes que o demônio montado numa quilha ferisse o mar à sua vista, ela teve a bondade de envenenar-se em público e de exprimir-se num desmaio, que a toda noiva cabe um dia desfalecer. E sem que ele a tocasse, terminou assim de morrer...
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