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    	Data 11/08/2008 12:58:27 | Tópico: Poemas -> Sociais
 
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  Meus olhos enxergam, No âmago do macrocosmo urbano, Retas metálicas e flocos de opulenta luz fulgurando.
 
  No âmago do macrocosmo urbano, Meus olhos contemplam Sóis cerebrais sob capacetes e mãos em luva Erigirem vivendas, trilhos, fibra ótica, aluminióticos dutos; Megastores, metrôs, trens-bala, bélicos hotéis de luxo: Uma verdadeira réplica subjacente Do superno mundo vivente Que continuamente se transmuda.
 
  Contemplo o árduo laborar glorioso destes artífices anônimos Do viés recôndito da face da vida citadina: Vejo gente alegre, quacre, tímida, tristonha; Vejo gente egrégia, cansada, íntegra, risonha; Vejo gente amarga, acre, doce, incauta e lancinante opala oceânica                                        [de incessantes lembranças; Vejo gente que traz consigo imensuráveis caminhos doídos de errância; Vejo gente montada no dorso auspicioso d’aurora; Vejo gente que segue o fluxo do córrego da estrada                             Longa, sádica, morosa; Vejo gente se desvanecer para sempre como mais uma presa Nas garras do renque do empedernido inverno da selva de cimento; Vejo migalhas de caviar na boca dos moribundos da mental seca, Amaldiçoados por serem inconscientes de sua iminente falência; Vejo, afinal, gente. Gente em sua mais sublime e ordinária essência. Gente fazedora da arcana alameda majestosa: Onde a couraça da contraluz esconde O estadão, a florescência arbórea da esmeralda, a tão almejada prata! Ah, meus queridos vitalícios detentos  da antropocêntrica faina, A vocês, tristemente, minha voz profere sua baldia fala: Pobre gente. Pobre gente, filha da atroz auréola da desgraça!
 
 
 
  Ah, o que sei.  Sei que lá embaixo há todo um universo... Lá embaixo há toda uma nação de chagas abertas, inflamadas... Lá embaixo há relíquias, realejos e trovas telúricas na memória... Lá embaixo há Favelas, Roças, Minas, Bahias, Pernambucos, Cearas    [Paraíbas, Amapás, Brasílias, Curitibas, Corumbás, Linhares,                          Itabunas, Restingas... Lá embaixo o sonho de repisar o chão de sua Terra Move uma infinita legião de operários eremitas... Lá embaixo a bruma é lume que sempre pereniza... Lá embaixo o ocaso prematuro é comensal insone,                       Um recalcitrante conviva... Lá embaixo aflora uma aura em espiral Que, enleando almas amigas do fugaz retiro, Quebranta as monumentais geleiras do hermetismo E edifica a ponte irmanatória da generosa troca de dolentes vivências.  Finalmente, lá embaixo, Os oprimidos sofrem uma metamorfose formidável: Eles viram Cézanne, Portinari, Matize, Oscar, Drummond, Michelangelo; Monet, Rembrant, Frida, Dali, Cabral, Gullar, Otávio, Van Gogh,  Picasso,  Pois com seus pincéis calejados pintam o novo capítulo  Da civilização contemporânea. Sim, Jorges, Juvenais, Damascenos, Marcos, Antônios, Firminos, Ricardos fazem vicejar a imponência das novas Esconsas urbes humanas.                     JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
 
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