
Vazio
Data 13/08/2008 01:06:28 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Não tenho sucessos prá contar Quanto tento, estou inventando Não tenho amores prá lembrar Quando conto, estou aumentando.
Não tenho experiências prá passar Quando as passo, estou exagerando Não tenho lágrimas mais prá derramar Quando choro, estou encenando…
A solidão roubou a minh'alma Enxugou o meu coração Que agora ressecado Sofre de rouquidão.
Não, não tenho olhares prá trocar Quando o faço, resvalo para o lado Pois a beleza fugiu de meu semblante E o avexamento pesa em meus olhos.
Não tenho conforto prá oferecer Pois os meus ganhos são prá comer Nem passeios prá descansar Pois os meus dias são para trabalhar.
Não tenho nada a oferecer O vício da solidão secou o meu ser As frustrações corroeram as minhas poesias E nem mais galanteios sei fazer.
Ainda um sorriso disfarçado Insiste o orgulho manter Mas logo, se bem de perto chegares Irás constatar um blefe melancólico.
Não tenho as mãos para afagar Pois trêmulas temem a rejeição enfrentar E o sentimento de frustração Ir correndo no coração se acomodar.
Não tenho a poesia mais para oferecer Pois ela é somente para os poetas E não para os amantes, que amam Enquanto os poetas lamentam.
Não tenho a beleza para atrair E poder, pelo menos por isso, Oferecer-te um orgulho Pois os poetas não são belos.
O tempo, como dissera em tantos poemas, Foi-se e agora já o avisto de longe, Dobrando uma esquina lá na frente. Não o alcançarei mais.
Não tenho vida para dar-te Pois o trabalho, os compromissos, A tecnologia e o frio Roubaram a minha alma.
Que de tanto me esperar Foi-se vagando por aí A procura de um descanso Desolada por não saber mais amar.
Hoje sou um homem qualquer Que a criação da arte fica Na lembrança apenas E aquele sorriso de outrora, também se foi.
Resta-me aguardar a intempérie Cruel e certa rasgar o meu rosto Com covas da erosão do tempo E encolher meu semblante, outrora jovial.
Ah, os instrumentos? Bem Estão lá, encolhidos de frio No canto do quarto Abrigando as aranhas e as traças.
Resta-me, na verdade, Como que para me torturar. Essa mania insistente De escrever, escrever e escrever.
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