labarenta, a luz ...

Data 14/08/2008 20:41:24 | Tópico: Poemas -> Surrealistas

labarenta, a luz,
engolia já cisternas de madrugada.
brados e lamentos
ecoavam-se, capitéis, nas pedras ao redor...
das falésias hirtas renasciam bandos d’airos e de gaivotas.


a mulher enchia o balde
à torneira pública
quando
a outra
corcunda na velhice entorpecida,
tal boneca empalhada ‘inda com vida,
recurva
palmilhava
o carreiro da senhora d’agonia.
celibata, vidente …
via…

espadas e adagas
recortavam os cheiros que me chegavam da ilha
em espasmos de marítimos naufragados:
- cheiros de suor sangue
e sódio calcinado.

… interiormente
esta convicção de gáudio infesta,
este pressentimento de que, labareda divina,
círio de tua herética promessa
me incendiarei, liminarmente,
no pavio curto do teu gozo: sanguinário, impiedoso,
seja…
se me fazes noviça em claustro aberto…
ajoelho e rezo
rezo em canto
num poema que é meu terço.

...este vómito
este pranto
este azul de mar e manto …
sacro!

… soergo-me, subo a adriça, iço bandeira
às hostes mais desabridas. emulo-me d’ópios e canelas
e sou, de mim própria, em mim,
mulher, profeta e matilha de feras que às próprias pernas
s’abocanha e s’atiça
[rosa é agora o sol poente na areia. rosa em semi-colcheia.]



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