2 POETAS E 1 CRONISTA: 3 CASOS SÉRIOS

Data 15/08/2008 13:30:49 | Tópico: Crónicas

1.

Naquela manhã, em sua coluna no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, Carlos Drummond de Andrade parecia aflito. Motivo: um grupo de alunos do curso de pós-graduação da Faculdade de Letras da PUC (Pontifícia Universidade Católica) enviara-lhe um calhamaço de folhas contendo um estudo interpretativo de alguns de seus poemas. Diante de tantas figuras de linguagem, o poeta não se conteve e desabafou: "- Meu Deus! Meus pobres poeminhas! Estou me sentindo o pior dos monstros diante destes nomes: hipérboles, silepses, metonímias e sei lá o que mais. Mal conheço o significado dessas coisas. Eu achei as imagens bonitas e quis transformá-las em poemas. Mas não pensei em nada disso."
O poeta tinha razão. Os teóricos são pretensiosos, chatos e pouco criativos.

2. Mario Quintana, solteirão de carteirinha, passou a vida morando em hotéis, na sua Porto Alegre. Isto depois de relativamente famoso. No tempo das vacas magras, tinha de se conformar com espremidos quartos em pensões baratas. Certa noite, o poeta de Esconderijos do Tempo chega na pensão completamente bêbado. Tropeça em tudo. Faz um barulho infernal. Os cães de estimação da dona da pensão começam a latir. A senhoria, assustada, abre a janela. Quintana, dedo em riste, dispara dezenas de palavrões aos cães.
- Sêo Mario, o senhor um homem tão culto, dizendo estes nomes horríveis?! - diz a dona da pensão.
O poeta, arregalando seus olhinhos muito vivos, não perde a viagem:
- Desculpe-me. Mas a senhora não entendeu o que seus cães estavam me dizendo.

3. Época da ditadura militar no Brasil. A palavra liberdade aparece em todos os muros. Some-se a isto a Trilogia de Sartre, Os Caminhos da Liberdade, talvez não tão lida, mas muito discutida, entre intelectuais e estudantes. Antônio Maria, cronista, jornalista e compositor de clássicos da música popular, como Ninguém me Ama, Manhã de Carnaval e Valsa de uma Cidade, é interpelado. Querem a sua definição de liberdade. Já meio tocado pelo santo malte escocês, o gordo Maria, autor de frases memoráveis, não pensa duas vezes:
- Liberdade é poder cagar de porta aberta.
Mais tarde, a frase de Antônio Maria seria atribuída equivocadamente a Vinícius de Moraes, que a repetiu, durante entrevista, à uma jovem repórter, que por sinal ficou escandalizada com o Poeta da Paixão.

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