
O Conto De Peixotinho
Data 18/08/2008 13:08:53 | Tópico: Contos
| O Conto De Peixotinho
Peixotinho estava muito tenso, e embora fosse um caso diferente, pensou em se inspirar em Fernando Pessoa e seus heteronômios. Ora, se o homem podia, por que não? Ocorre que “Violeta” começava a arrebatar toda a atenção para as histórias de amor que ele escrevia com todo o afinco, investido daquele personagem. E como se não bastasse, o tal “pseudônimo” que resolvera adotar, àquela altura fazia sucesso até com a Margarida, sua paixão platônica e desventurada de um ano . No começo divertira-se intensamente, sendo cúmplice da admiração de Margarida e até resolvera alimentar o sentimento, mas tudo ali parecia não ter a volta esperada. Peixotinho caíra na sua produção e a tal da Violeta (que era seu momento mágico...) alcançava muito sucesso entre os leitores de plantão e tomava o coração da Margarida. Sim, é bem verdade, que poderia contar-lhe toda a trama, mas que graça teria? E por outra, iria de fato se arriscar, para que ela o desprezasse como um bobo? Não. Resolveu que continuaria angariando a fama de “a dama do amor” por algum tempo, a não ser por aquela bufa conversa... -Como é?!! Não acredito!!! Você escreveu para a revista pedindo o endereço da Violeta?!! -Sim, preciso muito falar com ela. -Margarida!!! Pode ser uma pessoa muito ocupada!! Às vezes até é uma dessas escritoras inacessíveis, com muito trabalho acumulado... -Não Peixotinho, eu preciso falar do meu sentimento e da minha admiração! -Escreve uma carta e a revista entrega... ponderou o amigo, transparecendo aflição. -Que nada! Já tentei isso inúmeras vezes ... -O que você tem tanto para dizer? arriscou o amigo -Você não entenderia... -Ah,sim. Deixe-me ver...Quer aprender sua técnica, saber de onde vem a inspiração...essas coisas... -Não... falou Violeta com certo mistério. -Quer saber de sua infância, sua terra natal e os livros que leu? -Não... respondeu a mulher -O que quer então? tentava descobrir o pobre aflito -Você não entenderia... Depois de responder com toda fleuma, Margarida pegou seu sanduíche ,se despediu de Peixotinho e foi comê-lo lá no parque enquanto planejava a vida. Imagina, já tinha sido difícil confessar para si mesma e para o tal psicanalista o que acontecia, só faltava agora mais esse desgaste de explicar para o amigo sensível esta nova paixão...O outro não entenderia e talvez até fizesse disso um péssimo conto, se ao menos escrevesse como a Violeta...
Nina Araújo
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