exausta.

Data 19/08/2008 10:14:33 | Tópico: Poemas -> Introspecção

percorro os cinzentos alvores duma madrugada
de que me não sei
chama
labareda
do dia que me chega em boca
de um Sol que duvidei…

dou-me
ao varejo da serra aos cumes pontiagudos
aos mistérios duma jornada
inconclusiva
por entre o algodão doce da antemanhã

e encontro-me
em inquietudes e pirexias altas
…mais altas. maiores… maiores … maiores ...

a pele escalda em vermelhos siderais.
empola-se nas águas dos rios
sazonais…

assalta-me a dúvida
a impudicícia dos astros em mergulhos
de braços abertos
no símbolo sacro da cruz de Cristo.

resisto
ao fatal mergulho na ponta da falésia
suspensa
por fios tecidos em pastos ornados
de saliva rubra
… beijos de Judas.

o vento muda!

enceto a rusga, incito espinais medulas
ainda brandas
de jograis, de poetas e dissimulados profetas
por entre bocais e tubas
estridentes e desabridas
… de que sei, uma a uma, todas as
metálicas dores,

...vendilhões do templo que exorcizo.

canto o canto lírico dos trovadores
de trovas sacras.
oiço atenta o som das suas harpas
em linha longas de silêncio.

grito.
chamo-te
e tu não ouve. e tu não chegas… Senhor!

a lua toma o tempo do sol
em minha vida. a lua negra, aguerrida,
sou eu mesma, a própria.

distendo o corpo
por sobre a areia e sou da aragem que sopra,
grão, total entrega,
oferenda de seara virgem ao gume da ceifa.

exausta...
… desfaleço.

este cansaço está de novo a apoderar-se de mim!
Senhor … Senhor....estou aqui!


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