Hoje foste ...
Data 31/03/2007 21:30:00 | Tópico: Poemas -> Amor
| Hoje, foste o silêncio estruturado da minha demoníaca Torre de Babel, foste o sonho perpetuado num papagaio de papel, a música abafada na nervura filiforme da folha retraída.. E os dedos que rodaram, leves, serenos, em gestos finos e pequenos sobre a raiz da minha pele, na surdina arrepiada da manhã. Foste a brisa esmaecida por dentro dos bagos da romã. Foste igualmente, as asas de ave de rapina, avultadas no brilho aveludado no tacto repentino da campina. Foste o sopro refluente no caudal do sangue quente a pulsar nas veias, avidamente.
E foste estas lágrimas subterrâneas deploradas, e estes rios largos, escorridos, sempre e sempre esquecidos de ser mar. Rios silenciados, soterrados em aluviões de mágoas onde bóiam eternas jangadas de pedra, comandadas por Minerva. Balsas onde desliza, em espera a ancestral sabedoria. Onde se fundeia a ansiedade – tanta verdade encerra esta palavra saudade …
Jugulada, te digo: meu amor, amante, amigo … Hoje tu foste em mim o caudal e as margens-rio de um tempo que não encontra tempo para aportar … Por favor ... deixa-me chorar!
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