OS Cantoneiros de Alexanderplatz

Data 24/08/2008 12:40:28 | Tópico: Poemas

Saíam à noite,já depois,muito depois,
de o mundo dormir e carregavam contentores
pesados atulhados de objectos biodegradáveis como pulmões negros.

Saíam à noite,já depois,muito depois,de o lixo
por cores haver sido criteriosamente separado por
nós,ainda que mal - percebê-lo-íamos mais tarde.

Saíam depois,muito depois dos sacos pretos depositados nos ecopontos através de um gesto
tranquilo de sabermos perfeitamente estar sempre
a fazer a coisa certa,quando ensacávamos na sua devida cor os resíduos da cidade do ex-grande-muro.

Os materiais recicláveis ; conteúdos padronizados
cromaticamente,a saber:

Amarelo - plástico e metais (desejos)
Azul - papel e cartão (doçuras)
Verde - vidro (agruras)


Saíamos à noite,já depois,muito depois de
homens de mulheres de crianças do mundo
descansadamente dormidos,mas começámos
gota a gota de cerveja morta a perder as
memórias ecológicas e desesperados,reinventávamos
anatomias,inteligência,ordens e silêncios:

Desistimos da amizade ao ambiente,de tanto nos
matarmos a colocarmos as devidas coisas nos seus
devidos lugares.

Quase à porta da primavera saímos antes do mundo dormir em sonhos americanizados e brincamos às guerras com bolas de neve ,apontamos sempre ao coração,esse ex-grande-muro graffitado,cidade-estado superpovoada de slogans revolucionários que em dias de limpeza sazonal nos recordamos para o nada que também não servem.


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