NADA É O QUE PARECE

Data 24/08/2008 18:24:07 | Tópico: Sonetos

(HIPER SONETO)

Respiro os vapores duma ilusão
Como quem pertence à humanidade.
Mostro os sabores da iluminação
A quem está preso à realidade.

Ouço vozes de silêncios antigos
Como memórias de vidas passadas
Ecoando no fundo dos abrigos
Onde guardo as lembranças mais amadas.

Cheiro odores das flores da ambição
Que nascem em caminhos de humildade.
Vejo as cores com que se escreve razão
No coração de quem sente a verdade.

Sinto o toque de tormentos amigos
Como brisas de terras assombradas
Onde armadilhas evitam perigos
E pistas aparecem desvendadas.

Saboreio venenos de inimigos
Como ofertas de curas adiadas.
Com gritos que me ferem consigo os
Antídotos das doenças caladas.

Conheço os horrores da imaginação
Nos devaneios da sobriedade.
Sei quais os valores do bom cristão
Afastando a religiosidade.

Aceito quando esmolas de mendigos
Me escolhem como moedas faladas.
Não esqueço assim nenhum dos umbigos
Quando aquelas palavras são lembradas.

Embalo as dores da minha prisão
Onde as correntes são de liberdade.
Conquisto amores ao querer paixão
Quando o amor deu lugar à saudade.

Antevendo o passado que irei ter
Revejo o futuro nessas lembranças
Que se formarão enquanto viver.

Lanço os dados do meu próprio destino.
E no seu livro de páginas brancas
Não encontro as letras de algo divino.

A não ser que divino seja eu
E o que em mim pode criar as mudanças
Que o destino ainda não escreveu.

Além de todo o mundo me escrever,
Também sou de mim próprio o escritor;
O comandante do rumo a escolher.

Há muito no caminho que imagino
Os passos a dar p’ra tornar maior
A vaga chama com que o ilumino.

Embrulhado em tudo o que é e foi meu
Descubro que não sou esse exterior
Pois nada foi o que me pareceu.




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