
Moras num rio
Data 01/04/2007 21:10:00 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| Moras num rio emudecido que corre da foz à nascente. Moras num rio furtivo a deslizar na garganta queimada em novelos dobrados. Brados soltos, gemidos tantos... Um rio que, contido, não ameniza a secura dos prados, que não azula as margens, gretadas, afogueadas.
Moras num rio feito de obscuridades afuniladas onde as lampreias se negam em desovar. Preferem a corrente corredia do alto mar ... Que as tuas águas são enxurradas d’espumas nos olhos brancos das raivas e na extemporaneidade das palavras.
Moras num rio de olhos sonolentos, desatentos, enrolados nos sargaços meninos de sargaceiros enfadados.
Moras num rio que é noite, boqueirão imenso onde apenas eu, apenas eu ... te aceno no brando e vago gesto da cambraia do meu lenço...
Olha para mim! Olha-me bem de frente e vê, que esta mão que te acena tem já as unhas violáceas, que tenho igualmente a pele tisnada e a boca enregelada de tantas vidas esperar por ti, nesta amurada... (chegará primeiro que tu a morte a me buscar?)
Moras num rio com medo de ser mar!
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