A Profissão De Fabinho

Data 28/08/2008 13:15:54 | Tópico: Contos

A Profissão de Fabinho




-Tio Bráulio então me diga ,e é preciso ser doido?
-Um pouco.
-Desses de precisar prender?
-Não Fabinho. Só desses de ficar rouco...
-E precisa ser mentiroso?
-Mentiroso não, só inventivo...
-Desses que inventa as maluquices, é?
-Ih, você cismou com isso, menino!
-O senhor prometeu que ia me contar o que era preciso para ser artista!
-Estou fazendo isso, Fabinho...o que você quer saber mais?
-E pode conhecer o mundo?
-Pode sim, o artista viaja o mundo todo mostrando sua arte.
-E fica um tempo longe de casa?
-Sim, às vezes fica muito tempo por esse mundão de meu Deus, se apresentando longe de casa.
-Era isso que eu tinha medo...
-Por que Fabinho?
-Preciso conversar com papai um minuto e já volto.
O tio tentava não rir do menino que com o ar de muito sério, se dirigia ao pai deitado na rede da varanda calmo lendo o jornal matutino.
-Meu pai o senhor tem que me ajudar!
-Sim meu filho. Então você já se decidiu Fabinho, vai aceitar a sugestão de seu avô?
-Não senhor, mas vou precisar que ele aumente a minha mesada.
-Por que isso meu filho?
-O senhor sabe como é, agora eu preciso ser artista e até ter uma companhia das artes como o tio Bráulio, vai levar um tempão.
O pai fez um ar de consternado, puxou o filho para perto do peito e disse que ajudaria a conversar com o vovô à tardinha.
Naquela semana era já a quarta profissão que Fabinho decidira seguir, a coisa tomava um rumo inesperado, pois tinha combinado ser motorista no caminhão do seu Paulo, e professor como a irmã, e também advogado como o pai e o avô Costa, agora seria o artista que viajaria o mundo mostrando as coisas inventadas.
Não se sabe quanto tempo aquelas cenas permaneceram na cabeça de Fábio por todos os anos em que esteve à frente do seu escritório de Direito, mas nesta noite, no momento em que autografava o seu quinto livro de romances, com a alegria própria daquele menino , ele se lembrou do tio Bráulio e das viagens que finalmente faria pelo mundo através da profissão que sem o saber escolheu desde sempre.
Era reconhecidamente um grande escritor.



Nina Araújo.



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