A Amiga De Minha Madrinha

Data 28/08/2008 19:15:50 | Tópico: Crónicas

A Amiga De Minha Madrinha






Contou-me certa vez minha madrinha Nanci, que lá em Vitória, nos anos setenta, quando visitava sua tia, houve uma história inusitada acontecida com sua grande amiga Maria José que foi ao cinema pela primeira vez, na companhia de suas primas e dela, e deu-se uma confusão tão grande na sessão, que tiveram de acender as luzes e chamar até policia por conta do alvoroço.
Dizia ela que todas estavam muito eufóricas porque levariam a Maria José pela primeira vez para assistir um filme, já que a moça como minha madrinha, morava no interior e deveria ser uma grande novidade assistir uma película bonita passada em tela grande, com aquele som forte, e o glamour dos jovens bonitos e felizes, mais as pipocas os chicles coloridos, a aventura e o lanche que combinaram fazer depois na lanchonete da esquina, com o bom dinheirinho que a tia Cota lhes havia dado.
Ocorre que lá pelas tantas a Maria José quase não percebeu, vidrada que estava na história, quando um jovem muito bem apessoado fez-lhe um sinal para que o deixasse sentar na cadeira ao lado da sua. Ela assentiu com a cabeça agora voltada firme para o rapaz que parecia ser muito bonito embora de todo não pudesse ver na penumbra, mas a altura era boa e a educação também pensou inocentemente.
O filme continuava alegre, as moças pareciam animadas e satisfeitas e Maria José gostou de estar ao lado do moço bonito até que o pior viria a acontecer.
O rapaz se encurvou e disse algo no ouvido da “caloura” que a fez corar num misto de lisonja e surpresa. Ele havia dito que jamais vira uma moça tão bela quanto ela. Maria José agradeceu entre os dentes meio envergonhada, e como a investida parecia funcionar ele outra vez falou-lhe nova frase ao ouvido e foi aí que tudo acabou muito mal. Maria José de um salto se levantou , subiu estrondosamente em cima da cadeira o que causou espanto imediato nas pessoas, e disse de alto e bom som:
-O quê?? Eu? Maria José ?? Pôr minha mão no seu pirúuuuu!!! Nunca ouviu bem?? Nunca que isso vai acontecer!!!!
A sessão terminou ali porque imediatamente as pessoas se levantavam enquanto pediam aos gritos para pegarem o tarado, o moço passou do branco para as sete cores do arco-íris de aflição, e chegou a ensaiar uma corridinha mas logo foi contido e levado para o saguão, onde prestaria depoimento. As amigas e as senhoras mais velhas consolavam a Maria José que desatou a chorar com o susto e todos se mobilizaram de alguma forma para resolver aquilo, o filme inclusive, foi suspenso naquele dia e prometido o bilhete a quem quisesse voltar na tarde do dia seguinte.
A madrinha Nanci ficou com a incumbência de levar a coitada da Maria José de volta para Vila Velha logo que amanhecesse, não sem antes colocar a moça para dormir a base de muitos chazinhos de camomila.
Enfim, sabe-se que aquele pequeno bairro de Vitória no dia seguinte, teve muito o que falar sobre a sessão das duas de sábado, no cinema Paradiso, e minha madrinha conta até hoje, com certo orgulho, como naquele tempo as moças eram inocentes...



Nina Araújo


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