
Habitam-me pássaros de luz sem luz
Data 02/04/2007 23:30:00 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| Habitam-me pássaros de luz sem luz a tremular as madrugadas providas de vozearias infernais. Aquelas em que sou a voz de muitos, tantos, tantos, que me cantam ora em sinfonias celestiais ora em gemidos, em vagidos dolorosos e tribais.
Pássaros assassinos dos minutos dobrados nos joelhos das horas virgens, escorridas a preceito em silêncios aprisionados p’las sombras das alvoradas. Jogos em contraluz.
Habitam-me de igual modo o jovial e o serôdio, o banal e o original. Habitam-me avós sem netos, na ausência de afectos. Filhos sem pais, que os perderam nos baixios, rios de mangais. Lá onde a ofídia perigosa engoliu, folha a folha a branda flor da rosa. Álacre e poderosa, canta-me a brisa Lusa, aquela do vento, profusa, a deslizar nas perras agulhas da encravada bússola.
No desnortear dos pontos cardeais. Cega, não vislumbro entre tantos os sinais e guio-me insana nos meros instintos animais. Dou voz à voz que me canta, que me encanta, que me incendeia a pele da alma, por dentro. Em noite de Lua cheia. A voz cavada na goela do sentimento.
Hoje, magoada, solto de novo este grito: Basta, não quero mais!
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