Em honra à Sta Preguiça

Data 02/09/2008 13:25:21 | Tópico: Crónicas

Agora que praia e sol s'acabaram, vamos lá trabalhar e endireitar a linha das costas que se entortou com essas coisas de chegar a casa tarde, aos esses.

O voltar à carga do trabalho, sentado ou de pé naquela máquina que é chata como tudo, ter apenas um intervalinho às dez e outro às quatro, é como as segundas-feiras, dá cá uma preguiça que nem vale a pena descrever para não maçar ainda mais.

A preguiça é algo que devemos estimar, pois é nossa, faz parte da nossa tradição, por conseguinte, devemos ter orgulho patriótico nela. É tão íntima que ninguém dispensa preguiça a ninguém, nem aos amigos. Cada um tem a sua. A minha surgiu de um contágio quando festejava um golo com a equipa feminina de andebol (treta!).

E por que não um feriado nacional em honra à Sta. Preguiça? Ou um minuto (à alentejano) de silêncio antes de cada reunião da assembleia?
Deste modo, não havia desculpas por estarmos quietos tal aquele homem-estátua que aparece no Largo do Porta Nova às quintas. Não que seja dia de feira, mas para demonstrar que, mesmo estar parado, exige alguma habilidade, um certo estilo intelectual. Ora reparem na cartimância de alguns vereadores camarários.

Não julguem que é fácil manter o corpo e alma nesse estado de moleza em que o coração agradece e o patrão refila! Isto de não fazer nada temos de erguer graças a Deus. Ele próprio dá o exemplo, mostra como se faz e, olhe o que acontece: enquanto Ele dorme, resultado: boxe sem regras por todo o lado.

Preguiça é o acto ou efeito de preguiçar, é um verbo conjugado sem limitações.
Eu por exemplo, como não tinha mais assunto para dizer, e já que o editor me paga na mesma, por que não relaxar um pouco dentro da minha crónica?, estender a toalha nas minhas palavras e deitar-me feito inglês debaixo de um sol abrasador que quando sai debaixo do sol, sai camaronês.

Claro que não me pode acusar de que aqui o je tenha um ataque de preguicite aguda. Que querem?, não me apetece falar de nada, não escrever puto, não comentar as olímpidas.
Pois, caso o fizer, terei como defesa que você estava a ler este texto, desperdiçando tempo, na condição de saber se a preguiça tem vale de desconto em um hipermercado.

Meu amigo (permita-me que lhe chame assim), as férias acabaram e, tanto eu como o meu pensamento, ainda estamos "para lá de marraquexe" a remover camadas de stress à base de abacaxis e goiabas.

Quero lá saber de medalhas ao peito, se a primeira liga arrancou com vestígios de favorecimentos ou se o partido em que eu votei (?) virou um poço de riscos de doenças cardiovasculares.

Não esperem que eu vos fale da bolsa de valores ou de corruptabilidades. Estou-me a marimbar para as notícias de todos os jornais, para as garinas que o C.Ronaldo juntou à sua coleção neste mês de Agosto. Não vou puxar pelos neurónios só porque tenho um grupo de activistas à espera para me criticar ou porque, olha lá a reputação! Pois já a minha tia Carminda dizia: reputações há muitas! Portanto, sofra com a sua!

Saiba vossa excelência que também eu tenho o meu direito a não fazer nada, nadinha. Dá-me a sensação de que foi isso que me ensinaram na escola.
Em consequência, o senhor tem a legitimidade de neste momento ir-se embora trabalhar. Atestar o depósito do carro com cinco dias de trabalho.

Mas pode ser que vá longe, pode ser, nesse seu passo descontrolado. Porque eu vou ficar aqui a derreter-me de preguiça, a contribuir para a fraca produção do país, a reinar com a pobreza, a divertir-me com os casos de polícia, a catar pulgas da memória, a ganhar barbela de tanto sofá!, a rir-me muito daqueles que querem comprar casa com salário mínimo! Empenhados até aos ossos!
Ehehe, afinal de contas, eu sou igual a muitos: um contribuinte mal amado!

A preguiça é uma mulher que vai com qualquer um, pelo menos é o que tenho visto. Os cafés estão cheios, as discotecas pum pum pum, a abarrotarem, os parques de diversões, iupiiii, os centros comerciais mais parecem tendas de circo montadas num pinhal com toda a gente a lançar moedas ao precipício. Logo, a preguiça deve ser tratada com respeito, com diplomacia, com a esperança de um dia ser autênticada em praça pública.

Quem quiser que trabalhe que eu não sou p'raí chamado, alguém gritou.Praticar a lei do menor esforço tem os seus resultados, basta reparar naqueles tipos bem equipados, com ar de tirolês, que vão nas caravanas numa expectativa de que lhes toque uma boa bucha. Boas limusines, boas jantaradas; é a prova que o suor do trabalho não faz render pilins.

Sonho porque me obrigam a sonhar. Acordem-me só quando o mundo descarrilar! Até lá vou ficando por aqui, nesta bagunça de calmaria, a ver as crianças a (de)crescer, filadas que a esperança lhes saia nas embalagens dos cereais, a ganhar estrabismo ao ver homens(?) em lutas desiguais, etc.

Meu caro não pense nisso, depressões pós-férias todos nós temos, há que aguentar e lavar de novo a cara, porque a vida, é esta, não tem mais nenhuma, por isso, se quer um conselho de um teórico dos calhaus, deixe a vida rolar! Mas atenção, cuidado com os excessos!


p.s. esta crónica faz parte de uma rúbrica que eu publico no jornal a voz do minho com o título:Teoria dos Calhaus.
esta sai aqui antes do jornal (amanhã).

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