Anjo

Data 05/04/2007 02:49:45 | Tópico: Contos -> Tristeza

Era um dia normal na vida de uma pessoa absolutamente normal, como normalmente fazia saiu à rua de manhã, estava sol... Sorriu. Foi a pé para o trabalho como sempre fazia, gostava de verificar que o mundo continuava a girar para o mesmo lado e não tinha pressa de chegar a um emprego que lhe consumia o corpo e até, por vezes, a alma.
Andava devagar como convinha a um corpo a quem o sono não tocava à vários dias, ao deparar-se com uma esquina que sempre ali estivera teve um pressentimento, mas como era costume com estas coisas não ligou, era um céptico.
Depois dos 90º que lhe iriam mudar o dia (a vida?), acercou-se de uma multidão de pessoas que se amontoavam no passeio, como se ali morasse o Santo Graal ou a Pedra Filosofal. Ao contrário de todos os padrões de comportamento que apresentou toda a vida, sentiu que algo o sugava para o cerne daquela multidão, logo ele que tinha pavor às pessoas... Quando, qual herói, conseguiu abrir caminhos pelos corpos comprimidos, viu aquilo...
Um anjo, ou pelo menos aos olhos dele era, comprimido contra o chão, como se a Gravidade quisesse brincar, qual criança entediada, com o poder absoluto que lhe haviam dado sabe-se lá porquê. Vestia de branco como convinha aos anjos, mas o que o chocou mais foi a face, era bela, mas não era isso... Ele conhecia aquele olhar, aquela expressão, a morte naqueles olhos consumia-o todos os dias, a tristeza da expressão que se lhe deparava era a sua perdição de uma vida. Porque é que saltaste? A pergunta baqueava na sua cabeça como um martelo que o mutilava com uma frieza sem par... Não era ela, mas e se fosse? Ele tinha medo.

Entretanto começou a chover...



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