Pelos Ares

Data 08/09/2008 19:31:36 | Tópico: Poemas

Os dias reciclavam-se em larga escala,
como os livros tenebrosos de tão maus,
que não doavas a instituições de solidariedade
social acolhedoras de órfãos que mal sabem ler e escrever.

Quiseste queimá-los os livros e as pessoas
neles, de tão mau o seu teatro tenebroso,
mas os livros ardem mal, e as pessoas há muito
se consomem pelas línguas dos livros,mas não
são pessoas, não são fogo, ou melhor, não são fogo
de queimar, são fogo pálido ou fumo nauseabundo, como os dias,reciclados o fumo branco das manhãs, das noites o fumo negro.

O fumo é o meio termo entre o líquido
e sólido,gasoso é o seu sismo,na escala
de richter quando se suava mercalli,
efervescente o seu reverso,fumo,fuga de gás
em habitação de amantes
a tomar um banho de água tépida,
os corpos a servirem de esponja e hidratante,
shampoo sobre as palavras opacas,
diariamente lavadas por isso de raiz apodrecida,
como a água,morna,como os dias,
todos reciclados,como os livros e as pessoas nos livros.

Que são tão ruins quanto as de fora dos livros,
e ardem mal como os livros,e são fumo,
fuga do gás dos amantes esponjosos,
hidratados pela água morna,como os dias,
a fuga de gás reciclado em larga escala,
a água,morna,de argumentação tíbia,morna,frouxa,
como os livros,arde mal nos corpos hidratados
dos amantes gasosos,não aquece nem arrefece.

São diplomáticos, ficam-se pelo meio,
mas eis senão quando,como depois do fogo,
alguém se lembra de acender um cigarro
de recompensa e vai tudo pelos ares,
menos os corpos gasosos em fuga
das palavras da raiz apodrecida dos amantes,
como as pessoas e os livros,ardem mal,
diariamente lavados,pela água morna,
não aquecem nem arrefecem.


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