quarto 302.

Data 08/09/2008 21:26:31 | Tópico: Textos

às vezes encostas a cabeça ao vidro e sorris, eu desapareço num ápice antes que a tua mão a custo se erga num adeus, adeus nunca, por mais que o mundo te caia, adeus nunca. às vezes ainda te olho da esquina dobrada e é como se nunca dali saísses, quieta, a cabeça no vidro e a manta nas costas e então habita-me a saudade, a saudade é muito má inquilina meu amor. às vezes sento-me na borda e fico a olhar-te a face estática no vidro, tenho medo de ti tão distante mas voltar atrás é um caminho complicado que o tempo por certo não quererá para nós e fico. fico ali até a noite cair ou até que o frio me incomode, então desapareço como um sem-abrigo, já ninguém me conhece o rasto e o rasto afinal não é assim tão grande, um virar de rua, um cruzar ao fundo, a casa do costume. já ninguém me visita, já ninguém me telefona, já nem para perguntar por ti, é como se tivesses morrido, como se estivesses morta naquele quarto, o 302 do corredor 7, mas eu não desisto de ti meu amor e fico. eu sempre fico por aqui empacotado na película transparente que protege as fotos no álbum do nosso casamento, entre um gole ou dois do vinho que trouxemos de paris, eu e a casa, a casa e eu.


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