Sobre um Poeta

Data 10/09/2008 01:03:49 | Tópico: Poemas

Tentando apagar o sentimento fusco-passado com a borracha Mercur encontrada no fundo da gaveta onde
deixara seus sonhos adormecidos, ele senta-se na pedra verde-espera que um dia colocou no assunto amor.
No olhar cinza-esquecimento, o compromisso absurdo com as palavras sagradas que roubara de ilustres quando ainda não sabia-se roxo-velho, como todos os poetas terminam.
E as palavras inscritas em preto-petróleo,
declamadas à janela branco-gelo de um coração
pesaram-lhe na única memória.

E ele perdeu-se de seu tempo nas palavras alheias, por todos esses anos, assistindo a mulher amada acordar e dormir altiva e distante, como altivo e distante o sol se alterna, amarelo-sorriso.
Agora escreve a si o poeta, sobre alemanhas, ruelas, sobre fantasmas metropolitanos, sobre a chuva que virá. Mas ainda vivo. Ainda vermelho-vivo. Com uma chaga inextinguível a lhe doer na gaveta.




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=52116