Duda Formigão e o Curió Fujão

Data 13/09/2008 17:01:19 | Tópico: Contos

Duda Formigão e o Curió Fujão


Naquela tarde Duda resolveu conversar com a amiga Dorotéia, assim ele chamava a velha goiabeira que ficava estrategicamente defronte a casa da árvore, era uma resistente amiga, certa vez quase definhou por conta de uma doença, porém aguentou bravamente e até hoje dá frutos muito saudáveis.
O menino tinha com ela um colóquio muito vasto e da maneira de árvore responder, tudo se acertava entre os dois.
Há dois dias Duda vinha preocupado com o sumiço do curió, mas a amiga lhe garantiu que o bichinho andava ali a rodear os seus galhos mais finos, disse que ele não foi muito longe e planejava voltar, mas precisava ter a certeza de encontrar refúgio, uma vez que a vida por aí anda feroz, e existia muito bicho grande querendo abocanhar o seu corpinho...
-Ouça bem Dorotéia, hoje vou trazer comida e vou dormir aqui na árvore com o Joaquim, deixarei a gaiola dependurada com a janelinha aberta , comida e água farta, fale para ele voltar que garanto o retorno ao lar de seu Jacó, já tenho tudo planejado aqui, falava o menino tão sério quanto um adulto.
Por incrível que pareça, quando Dorotéia afirmava qualquer coisa vinha uma rajada de vento do céu e os galhos balançavam muito, assim foi a resposta...
Como o combinado o menino e o caseiro ficaram de prontidão com um farnel muito gostoso preparado por dona Jandira, já tão acostumada com as noites de menino na casa da árvore, novidade para ela era o Joaquim acompanhar o Duda com o pequeno Paulinho, seu filho de cinco anos. Mais um habitante para a árvore, pensou sorridente...
Pela manhã o dia com o sol reluzente foi testemunha da volta do curió fujão, sob livre e espontânea pressão da vida, afinal o que mais queria aquele folgado do que casa, comida e carinho de “mão beijada”.
Voltou sim, e a liberdade não lhe faria falta alguma a não ser que se conformasse com a boca de algum gavião, no caso dele, que pouco aprendeu a se safar do perigo.
Duda tomou um café caprichado e em seguida foi com o amigo até a casa de seu Jacó que recebeu o presente de muito bom grado, achou até que já conhecia o bichinho, pois este não parava de piscar com ares de festa, que coisa esquisita!
O dia foi de alegria também para o caçador de fujões, pois Duda recebeu a visita de dois amigos da escola que também visitavam os avôs ali por perto, e ficariam com ele por dois longos dias. Nem é preciso dizer que dormiriam na casa da árvore já que o tempo estava firme e dona Jandira preparada nos quitutes... As crianças brincaram muito durante todo a tarde e até o Paulinho entrou nas brincadeiras, sempre poupado por ser o mais pequenote.
Foram dormir muito cansados das aventuras do dia lá na árvore, e pela manhãzinha como que por um encanto o espetáculo se deu ... dezenas de pássaros contornavam a casinha, pousavam nas beiradas da janela, em cima do telhado, eram pequenos curiós, canários, sabiás e outros, num movimento lindo de luz e cores. Sem entender bem a razão daquela festa Duda gritou para Dorotéia que lhe respondeu com os galhos ao vento.
Foi então que soube... O tal curió fujão contou lá na linguagem deles, para um ou outro amigo que foi visitar a sua gaiola, os detalhes da sua volta, e agora todos ali estavam pleiteando viver na mordomia também.
Será que Duda sairia dessa...


Nina Araújo



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=52615