O acontecimento

Data 15/09/2008 20:10:17 | Tópico: Poemas -> Tristeza

Com a cabeça encostada ao colchão,
Deixa deslizar as lágrimas,
Que molham a face rosada,
Testemunhos de um acontecimento,
Que para sempre a sua vida irá marcar.
Na inocente brincadeira,
Um dia fatal,
Estava esta criança a brincar,
Na sua rua, como se fosse o seu quintal.
Seu nome, ouve alguém chamar,
E apesar de no seu intimo,
Persistir um pensamento de aviso,
A criança, com aqueles meninos crescidos, ousou brincar.
Caminha para o sitio que indicam,
Mas pressente algo de mal,
É um sítio tão apertado,
Até mesmo para a sua idade.
Não gosta de ali estar,
Já, com aqueles meninos, não quer brincar,
Quando pensa em partir,
É quando o jogo vai começar.
Sente braços que a forçam,
A sentir o sabor daquela terra húmida,
Ouve as vozes,
Mas não entende,
Que o peão do jogo, é ela própria.
Grita pela mãe,
Que algum guisado, para o jantar, naquele momento prepara,
Grita pelo pai,
Que em álcool, seus pensamentos de guerra, afaga.
Está sozinha e em dor,
Tocam-lhe,
Onde não permite,
Ignoram que apesar de pequena,
É um ser vivo,
Devoram a sua inocência,
Queimando toda a alegria,
Deixando um corpo sofrido.
Foram uma infinidade de segundos,
De uma cruel eternidade,
Corre, corre, pequena…
Mas houve ao longe os barulhos,
De índios selvagens!
Ignora que simultaneamente,
Está a ser procurada,
Pelo seu alcoólico pai,
E quando este quase a encontra,
A menina esconde-se,
Porque sabe que algo de mal aconteceu,
Não consegue explicar,
Mas uma parte de si morreu,
E será que algum dia irá ressuscitar?
Não são palavras de amor,
Que ao seu encontro se dirigem,
Mas a forte mão do seu pai,
Que mais dor lhe provoca!
No seu quarto, no frio chão,
Consome tudo em silêncio,
O que se passou, nunca a ninguém contou,
E ainda hoje as suas lágrimas,
Todas as noites,
Encontram o seu colchão.



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