pagãos e nus

Data 18/09/2008 07:08:01 | Tópico: Poemas -> Amor

dos dedos e dos pastos
trazes
a fome das aves esvoaçantes em colheitas
e tanques da Lezíria
- matizes d’ocres selvagens e bridas ofegantes
em tempo de ponteiros desconcertados.

das leis dos homens,
das que te oprimem a fé constante,
descerras
no vagar da tarde
que não tens
novidades póstumas
noites indiferentes
que transmutas em beijos madraços
no arrebatamento sublime de adejar de folhas livres

quando, à míngua de teus dedos,
afastas bambinelas nubladas de meus olhos,
- caixilhos biselados ao turvo -,
abres de par em par infinitas janelas, persianas pálidas
em afagos de lápis-lazúli.

…e recolhes
delicadamente estilhaços d’organdi
e os colas, fulgentes e vivos
ao fundo escuro do mar
na volúpia sensualidade dum abraço,

nosso. só nosso.

mago me cinges
em volumétricas distancias de um rio
que se confunde em vela e lastro d’abundante fundo
e é tela igual de sul à nossa frente.

ainda que em leito incerto
mondamos o arroz das ervas daninhas
descalçamos sapatos à largura figurante do destino,
libertos dos saltos altos,
se somos amantes sem guião nem palco,
e nos tomamos, pagãos e nus,
de sonos em sonhos e tangos argentinos…



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