Crueldade ao qt me obrigas!

Data 16/09/2008 13:46:09 | Tópico: Textos -> Humor

Sou um pouco azedo, talvez, porque em criança nunca me leram historinhas de encantar nem nunca participei em grupos corais ou escuteiros; a minha onda era mais do tipo levantar a saia às raparigas na escola primária.

Tive de saltar muito cedo do berço e larguei a têta assim que soube que existia mais onde pôr a boca: em bolos, por exemplo. Ah, seus marotos estavam a pensar em quê?!

O mundo é cruel e com ele aprendemos a esmuiçar o significado da crueldade.
A depilação masculina é o caso mais flagrante de que falei. Eu, cá para o meu Ego, não imagino o que seja uma cera depilatória, ou gilete, arrancando - como quem arranca troços de coives - meus pelinhos do peito - motivo de alguns controversos elogios - ou de outras partes visíveis (só visíveis) e ficar lisinho nessas zonas, tipo rabinho de bebé.

A depilação já não é apenas um registo de propriedade das mulheres, homens há que, regularmente, se depilam para ficarem mais sei lá o quê. Isto sim ó gente culta, é uma crueldade para a masculinidade que, qualquer dia, por este andar galopante, ainda há-de haver homens a usar meias de vidro, em passo de quem aperta o chi-chi para não quebrar a meia.

A crueldade é uma fera que tem por mania se escapar da jaula. Mas, ele há coisas mais cruéis do que entender por que é que os padres não se podem casar?, quando toda a gente democrática sabe que eles, bem ou mal, fazem umas missas por fora?!

O celibato é talvez o número um do top no que diz respeito à crueldade. Não poder dar uso ao aparelho reprodutor deve ser triste, tão triste como ser benfiquista de há uns anos para cá.

Se uma coisa dessas me tocasse a mim (bolas, cala-te boca!), não o facto de ser benfiquista (o que o sou) mas sim ser celibatário (que podem ser significado um do outro), seria como me mandar para a guerra sem munições, ou, para melhor esclarecer o meu raios que o partam, ser celibatário para mim seria como, à falta de outros recursos, depenar frangos à dentada.

A perda de cabelo, o ar de quem perde meia manhã em frente ao espelho a contar os cabelos caídos no lavatório e na toalha, o ter que se habituar a olhar-se depenado na fronte, seus amigos a comparar a sua testa com um campo de aviação, é a crueldade mais popular por este mundo adiante.

Todo o homem gosta de um bom risco ao meio (entenda-se), de se engelar, de sentir o vento a puxar o cabelo para trás, na Zundap, mas, infelizmente, este defeito de fabrico que nos destapa a cabeça, deixando assim de realçar o nosso ar gótico-desportista, cria-nos obsessões, paranóias, ao ponto querermos usar um capachinho, a colocar uma peruca que se vem um vento de lado atira-a para o asfalto.
E os amigos rindo da nossa careca pouco artística! Isto sim meus amigos, isto é crueldade em ponto de centrifugação!
Olhar para o nosso velho e saber que aos vinte e poucos anos estaremos igualzinho a ele: de boina preta a esconder a careca.

Ó Crueldade que foras Mito e agora és Verdade! Quem compôs o teu arsenal para agora vires aqui quilhar o juízo à malta? Vai mas é lá para a tua terra pois por estas bandas já temos o amor que nos dá trabalhos no sofrimento!

Ter que ouvir a Júlia Pinheiro, ler uma página da Margarida Rebelo Pinto, saber as previsões da Maia, comparar o que eu ganho com o salário de alguns tocadores de pandeiro, só por si é uma crueza medonha que assusta as sarganitas.
Melhor seria vinte chicotadas valentes ao ter que ler na caixa de multibanco "lamentamos, mas o seu saldo não lhe permite efectuar levantamentos".

O nosso aparelho digestivo nasceu de uma crueldade, afirmo isto porque, Deus (ou lá quem tenha sido o inventor), não quis que os Homens abusassem da carne de porco, dos fritos (que são tão bons), das Wiskadas, das noites apimentadas e calóricamente apelativas, já que, em consequência destes males que sabem bem, o nosso querido aparelho digestivo começa a dar o pifo e, do remedeio ao conserto muitas dores se sucedem, para não falar em signos câncers.

Não era bom podermos comer, beber, lambuzar saborear, tudo e mais alguma coisa sem danificar nada por dentro, sem que a massa adiposa venha fazer amizades para o nosso corpo, ora diga lá? Então, se isto acontece é porquê?
Das duas uma: ou Deus não quer que a gente se divirta ou então: Crueldade: acto ou efeito de rejeitar boas ofertas numa praia de nudistas.


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