Contra a indiferença

Data 08/04/2007 10:40:00 | Tópico: Poemas -> Tristeza

Contra a indiferença ergo bem alto
a taça em cúpulas de verdes chamas.
Jarros brancos.
Dispo-me de convicções,
visto apenas as palavras viandantes e
numa maquiavélica Máquina de Tempo, viajo
por dentro de um túnel a que chamo Vida.

Contra a indiferença
deixo que o cabelo prata seja uma imensa
circunferência luminosa esvoaçante
– nos tons azuis da branca rosa.
Convido os astros arrefecidos
a viajar no torvelinho de fios, frios e feridos.
Sentidos em erupção metafísica – sem planos, rios aplanados.
Deuses alados.
Busco-me, espreito-me por dentro,
no desalento de me não encontrar e na silenciada certeza
que levarei para lá de mil anos a me decifrar.

Contra a indiferença,
descalça – são vidros os passadiços -,
a Alma se adensa e viaja.
A Alma clama
a rua estreita dos Álamos e as clareiras pútridas
onde deixei o Sonho. Que sem memória
Histrião, Jogral ou Arlequim,
toco clarinetes, tambores, pandeiretas,
dou, na baba espumada das ondas, inusitadas piruetas.
Procuro a idade
de ser gente, e mais não sou que fera em espera,
Serpente!
Sibilo e choro e louca, me demoro
sempre aqui - no ventre de uma noite sem fim.
Impertinente.

Contra a indiferença …
Percorro um mapa principiado no riscado da areia
e que, continuado, se espraia no dorso de uma gaivota
- voa a mais de duzentos metros acima de mim…

Cansada, descanso no ombro de uma cigarra.
Canta a Vida.
Desamparada, puxo do céu uma nuvem,
sinto-a algodoada. Esfarrapada.
Visto-me de nada …
Contra a indiferença,
desenho um mar em chamas para me emular, por fim.
No fogo da Alma.


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