lugar comum

Data 19/09/2008 00:59:43 | Tópico: Textos

chego hoje aqui com o coração inchado, tinha tanta coisa para te dizer mas a estrada que nos separa rouba-me as palavras e prende silêncios nas veias do meu corpo. sinto nas vísceras os anos que passam, fotos de um rosto que pinto de ausências, escritos de um tempo num lugar comum, o mesmo de sempre, entre o tempo do salto e a vontade de saltar. fico por cá enquanto me habitam as certezas de um coração pesado onde boiam momentos que não aconteceram, dias que não se viveram, vozes que não se humanizaram. encosto-me ao ar, na densidade de um aqui ou agora, sinto muito pouco sem ti e morro. em queda livre sobre um espaço ferido, asa seca, flor murcha numa espera que me enterra o corpo triste. este sítio adensa-se na quietude de duas mãos que se dão, entre um cheiro a jasmim e uns centimetros de madeira de caixão, seca e envernizada com bondex. as mãos têm um lugar comum à porta das bocas, bocas que nunca se sentiram húmidas onde os lábios secaram beijos. nunca é tarde em tempo de lugar comum.


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