LIVING FOR A DREAM(A STEVE BIKO)(REPUBLICAÇÃO)

Data 19/09/2008 12:11:47 | Tópico: Poemas -> Dedicatória

LIVING FOR A DREAM
( A STEVE BIKO)

Nas horas mais merencórias,
Eu penso em um tempo, em um homem, em um povo
Que, mesmo florescendo em sua própria terra,
Não podia medrar o quão lhe pudessem a mente e o fôlego.


Em verdade, eles pululavam já destinados á corrente:
Não falo da corrente dos navios negreiros, da coisificação,
Dos pelourinhos, das senhoriais libidos, dos látegos, dos Engenhos lucrativos!
Não, estes foram suplantados pela refulgência de seu jaez
Efêmero, fugidio.



Do que concisamente eu falo?
Falo do não poder andar livremente aonde quer que vá.
Do que concisamente eu falo?
Falo de ser impelido a viver confinado como anomalia ou coisa
Que o valha.
Do que concisamente eu falo?
Falo de sermos mortos impunemente por sermos cromática
Sujeitada.
Do que concisamente eu falo?
Falo de não podermos celebrar o emitir da nossa maravilhosa
Clorofila, da nossa mitologia, da nossa hermética eloqüência,
Da nossa garbosa fosforescência!
Do que concisamente eu falo?
Falo do homem que, por crer que temos o direito de ter
Direito, o direito de sermos pássaros,
Disse não, ainda que soubesse que seria levado mais cedo ao
Encontro de sua supernova: uma supernova infanda, macabra,
Dantesca aluvião!





Mas não,
O apagar de sua luz não fora vão.
O apagar de sua luz demonstrara ao mundo
Que a plena exposição de sua luz ferina lhe era perniciosa,
E que por isso seria preciso escondê-la sob o seio da bruma
Da atmosfera onde reside a sôfrega voragem, o atroz reino da
Selvageria.



No entanto, a pugna não acabou.
Mesmo porque a luz continua a nos incidir seus raios:
Sim, da bruma que paira sobre nós.
Sim, não podemos desistir.
Não podemos traí-lo em seu legado.
Não podemos deixar que nos impeçam de voar.
Não podemos permitir que nos cortem as asas,
Porque, se assim o fizermos,
É porque acreditaremos no discurso de nossos abutres, senhores,
Algozes.
Qual é o discurso?
O discurso de que somos bens da jaula,
Não amos de nossos próprios fados, pensamentos, escolhas,
Moradas.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA


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