
Hoje, Sou Penumbra
Data 19/09/2008 21:13:18 | Tópico: Poemas
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Hoje, não sou cor, sou penumbra, porque sombrios são os tempos que aqui venho anunciar, proclamando sentidamente, a dispersão final do sonho, que quebrou mas está lá, como farol que se extinguiu, mas que em noites de luar ainda projecta a esguia sombra, no prateado do mar...
Hoje, venho contar do vento gemido louco e sibilante que canta à minha janela como pulsar insistente das marés por confrontar. Assobia e rodopia, e tolhe de espanto o silêncio, torre esguia sem sustento, como voz enlouquecida que não fala, não sussurra, não é a voz clara de alguém, mas apenas um lamento, triste, incolor e pungente.
Hoje, não trago luzes para iluminar o presente, foscos estão os olhos de míopes que acendem relampejos falsos, de um brilho opaco, rajadas frias de vento um clarão cego, só estremecimento, rasgando o algodão da noite.
Hoje, só venho anunciar que um barco também navega mesmo num mar sem farol e, levado pelo temporal salta a linha do horizonte vogando para o país sem nome, onde a sede de emoção se faz poema e voa.
Hoje, venho anunciar que o sonho ainda é ponte para a margem azul da dor e que o dia, não é luz, a noite, não é claridade e eu não sou eu, mas uma sombra sem contornos, um perfil na bruma dos faróis, a luz que uma vaga maior, por certo silenciou na mudança das marés...
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