De Tudo que Tive

Data 20/09/2008 01:55:25 | Tópico: Poemas



De tudo que tive, pouco me sobra,
De todas as certezas, nenhuma,
De toda a verdade, alguma,
De tudo que tive, pouco me resta.
Resta-me a fatalidade do tempo escasso,
A vertiginosa aventura da vida,
Escoando,
Fina areia coada,
Pelo gargalo do agora.

Mas tive de tudo sim,
Amálgama do ser!

Tive primaveras magníficas,
Águas claras, pastos imensos,
Bois ruminando a paz,
Pássaros cantando o amor,
Azuis, de todas as gamas,
Azuis profundamente azuis,
Verdes luminosos,
Verde esperança...
Mudança,

Mudança é do que mais tive!
Mudança com tudo estático;
Mudança em mim,
Criança,
Projetos de papel,
Casas de areia.

De tudo que tive, pouco resta.
Resta um resto de areia:
Fina areia coada,
Escorrendo implacável as horas,
Resta as mãos quase vazias de tempo,
Restam pedaços, alguns,
Do muito que perdi pela estrada,
Resta a cabeça que não pára,
Quando bem poderia ter parado,
Resta um corpo que sente,
Um coração que pulsa,
A repulsa da vida vã.
Resta o olhar que tortura,
Resta o ouvido que não ouvida,
O vivido.

Do muito que tive, me farto!
Do pouco que tenho, me engasgo,
Travo na garganta,
Descompasso,
Grasno, gargalho,
Choro,
Atalho
O sal das lágrimas,
Nem últimas,
Nem primeiras...

Do sonho que tive, parto.
Sem dor, sem mágoas,
Sem choro,
Sem amanhã,
Sem nada!








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