o poema não morde, o poema não fala

Data 30/09/2008 20:50:33 | Tópico: Poemas -> Surrealistas

o poema não morde
o poema não fala
o poema rejeita estropios d’alma.

as luzes estão apagadas
o pano caiu
o ventre inchou-me sem razão
… não, não estou prenhe
a não ser da minha própria insensatez
se acasalei sem chão
(o teu)
e os pés, esses,
inflamam-se-me em fúria aquosa de desfolhar marés.

o poema não morde
o poema não fala
o poeta engole e baldeia ar comprimido
da botija vazia

na ribalta enregela-se d’ elocução
agonia-se
anseia-se
emetiza-se d’acetileno perverso

verso, (in)verso
(in)verso, verso …
este
que julga ser ebúrneo

cândido

compósito indulto
em palidez
lívida de mortifica paz…

de um “tanto faz”.

[… hoje canto braseiros acesos
nos olhos e nas ombreiras
e nas paredes escleróticas –
sombras desabitadas
daquela sala].

o poema não morde
o poema não fala
o poeta agoniza
em ausência d’horas claras.



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