Sem título(61)

Data 11/04/2007 20:41:08 | Tópico: Poemas

Estás velho rapaz

Irremediavelmente velho

Velho gasto e acabado

Acabado de morto

Morto de morte comprovadamente matada

E na tua ufana vaidade

Nem dás conta da tua morte

Nem sentes o teu falso respirar


Agora mais não és que cancro e bosta

Fedes como cadáver retardado

Esquecido numa qualquer valeta

Abandonado de cabeça trucidada

Deixado na fossa do vómito maior


És metástase da tua própria metástase

Loucura celular

Náusea quimio-terápica no corpo em vómito

Abjecção exímia da existência ridícula

Justo final de quem nunca existiu

Absurdo nado-morto repugnante

Escarro humano

Asco supremo

Aberração monstruosa

Cadáver do cadáver adiado


Como te compreendo rapaz

Como me sinto pleno e teu igual

Em noites e dias tenebrosos

Em todo o breu da verdade de mim

Em meus efémeros e derradeiros instantes

Sou mais igual que teu igual

Sou a fossa profunda da abjecção


Dionísio Dinis



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