Manhã Outonal

Data 12/10/2008 11:16:29 | Tópico: Textos

A manhã explode no esplendor do murmúrio de uma aragem. Sente-se o cantar dos pássaros a passear pelos labirintos recônditos daquela floresta a que chamam nascer do sol. Afasto a cortina e um raio quente beija-me a pele. Por momentos, penso que és tu que me tocas suavemente, mas essa ilusão desfaz-se em menos de um segundo. Olho o céu despido de nuvens e concentro o meu desencanto numa folha de Outono caída. É essa folha sinónimo de vontade, pois é ela que herda a riqueza táctil do vento nocturno, enquanto eu durmo no alcatrão polido da cama morna. Morna, sim, porque tu não estás! A solidão faz-se prantear de uma distância caiada de esperança. Espero-te, não nego, esperançosa e faminta de tudo o que simbolizas. Espero-te na foz de um semblante carregado que perdoa a ausência com beijos e carícias. E morro nesta espera de nada. Trespassa-me uma espada de gumes duvidosos, levando-me a contenda da dispersão para longe da minha alma desamparada. E apenas esboço um leve gemido de dor pela perda daquilo que nunca tive, uma perda falseada pelos alardes silenciosos de uma manhã outonal.


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