dispo o tempo em tom magoado

Data 14/10/2008 11:25:49 | Tópico: Textos

desenho com as lágrimas algumas formas de estar sozinha e gosto de levar as mãos ao chão para apanhar memórias mais longe, pego em mim ao colo e faço-me festas enquanto dispo os meus pés de algumas dores antigas, estigmas que não foram chorados, coisas para chorar mais tarde quando a lua cheia descer ao rio e o bosque se abrir em flor. o bosque é um terramoto sobre os ossos. de perto ver cair a pele do corpo, o chão a encobrir algumas faltas sucessivas, trajectos de solidão, avessos de um qualquer estado triste, melancólico, formas de tecer uma morte prematura. sorrir. no val da escada sento algumas esperanças em apodrecimento crescente, talvez me magoe um pouco mais a ausência de mim, a aparição dos dias abortados no colo. o tempo espera na esquina ao fundo da rua, fato preto, gravata cinza e a noite entre as mãos. cai por mim abaixo a sonata dos ponteiros, ainda julgo parar o tempo, crendices de quem precisa acreditar nalguma coisa.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=56765