A Carta Que Nunca Te Escrevi ou a Simples Confissão do Meu Maior Crime (Parte XII)

Data 16/10/2008 22:31:01 | Tópico: Prosas Poéticas

Sentencio-me a mil anos de encarceramento nos teus olhos por uma fortuna saqueada de mil moedas de paixão. Sou teu! Minhas mãos são bibelots que usas para adornar o teu corpo, joguetes para o afagar quando te sentes só, despercebida no teu mundo que queres meu.
Já pensaste na última palavra com que sonhaste? Aquela em que me contavas repetidamente a história do nosso mais recente romance, nós dois, um mundo rodeado de vida que nos servia banquetes de beijos e que nos juntava os corpos nus e curiosos. Lembro-me tão bem dessa palavra, dizia-me tanto, ainda me diz.
Certa noite, entre o suor das carícias mais íntimas, disseste-me que seria sempre assim, louco, o nosso viver. Olhei-te em silêncio por ter medo que me ouvisses os sonhos que escrevi para ti, para mim... e até para nós.
Achei que, estando a teu lado, nunca atingiria a minha liberdade, esqueci-me que para ser livre também tu terias de o ser, recusei a ideia de que apenas voaríamos livres se fossemos um. Iludi o nosso amor e separei-o por anos incontáveis, guardei alguns comigo para ter parte de ti para sempre, perdi-os no jogo da vida e agora peço-te de volta.
Um dia escrevo-te estas cartas por saber que nunca é tarde, sei que me pedirás para tas ler ao ouvido, sussurradas como brisa do teu mar, saborosas como mel, sedosas como o teu olhar.
Queres-me?


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