
Cavaleiro meu...
Data 15/10/2008 22:28:03 | Tópico: Poemas
| Cavaleiro meu, por onde andais? Por onde passa vosso cortejo de espinhos e anseios, vossa cortesia de bardo, esse olhar de romeiro que escava palavras, e descobre numa mulher, suas veias, suas recônditas enseadas?
Cavaleiro meu, vossos braços me embrulham nesta névoa, a cúmplice feiticeira dos amantes, um secar de pálpebras pelo sal da penumbra, um confim de frase nunca dita ao entardecer dos prazeres e coisas interditas, esse crepúsculo de cinzas por ancestrais malditas.
De onde trazeis esssa emoção? Que cheiros peregrinos e areias desprendem vosso bargal, a que portos rumaram os teus medos, que suor exala esse teu corpo, que segredos? Mantos são esses vossos de linho moço e sonâmbulos devaneios...
Donde a numismática de teu rosto, essa força morena, esse magro pescoço onde assobia o vento temível das estepes ou doutros lugares inóspitos. Porque nem sois, sequer ainda fostes o dono de minhas noites, Cavaleiro meu, quando teu outono?
Tuas vestes pela lua, uma nostalgia de fim de tarde, algo próximo como um sopro das lonjuras, eu te pressinto no meu sangue, mercúrio irrelevante, estio por crestar o pisar das folhas. Cavaleiro meu, por que não me olhas?
Verás a teus pés um vaso de êxtase, derramada a água da paixão pelas nossas horas, esses momentos de cristal já fora de horas, astro de luz impura, por que tanto demoras? Há uma véspera de luz no nosso limbo e a tepidez em teu corpo ancora...
Nunca vos vi, porém pressinto-vos semeando no meu peito uma sintaxe que é de dor, e um lamento, e um frémito de loucura, um arrepio de dedos, a opacidade da busca, um braço de crepúsculo na madrugada fresca de luxúria. E nunca tua voz impura.
Cavaleiro meu, anjo do mal, quando caís em fio de lâmina de vosso frágil pedestal?
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