
A Minha Rua
Data 17/10/2008 12:41:42 | Tópico: Poemas -> Saudade
| Outrora, a minha rua, foi pintura de quintas e prados, viçosos e verdejantes. Caminho longo e sozinho, casas poucas e o silêncio interrompido, apenas, pelo chilrear dos pardais.
Pátio de tantas brincadeiras de criança, que a inocência da idade acabou guardando na memória. Recordações de uma tela, tingida de vales e serras e pela pureza do ar do qual guardei o cheiro a eucalipto e pinheiro.
Volvidos anos, da mesma varanda eu avisto a majestosa rotunda que me inibe os sentidos e me chega a roubar a alma. Porque as quintas já só existem nos meus sonhos de menina, porque os prados já lá não estão e o odor que agora inalo é dos escapes enfumarados e o chilrear de outrora deu lugar à interminável fila de carros, stressados, ruidosos e empoeirados, que caminham de semáforo em semáforo, dia após dia, hora após hora, na azáfama dos que não têm rosto, não se conhecem nem se cumprimentam. Porque na minha rua todos passam e ninguém sabe quem é quem!
Maria Fernanda Reis Esteves 48 anos Natural: Setúbal
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