Onde anda a felicidade?

Data 17/10/2008 22:52:22 | Tópico: Prosas Poéticas

Conto os passos que dou. Não paro. Tenho na ausência a necessidade de te saber e, na procura da resposta, perco-me por aí… Oiço vozes dentro de mim, oiço gemidos de lamentação e gritos de raiva. Oiço-me nos que se cruzam comigo mas não paro. E dos passos que já dei onde me entreguei de corpo e alma sobra-me um tempo perdido e umas solas gastas. Deixaste-me! Deixei-me nos passos que dei e distante dos passos que queria dar quando me entreguei à causa que abracei. Felicidade. E desse abraço guardo a lembrança da ternura com que me abracei e ainda sinto a vontade, a esperança e a crença que tinha quando julgava estar tão perto do meu querer…
Hoje sei que me iludi. Sei que o caminho que tracei não me levava a ti. E por mais duro que possa saber, sinto que não sei se um dia conseguirei entrar no espaço certo para que possa esbanjar conscientemente os passos que outrora dei…
Quando já nada me resta, tenho a pergunta, aresta, que me persegue e assalta a mente. Tenho-a bem dentro de mim, a brincar com as vozes que me percorrem o meu espírito entre gritos de desespero, de raiva na encruzilhada do ser e que se agitam com os gemidos, perdidos, de mim ou de um demente que não pára, que já não conta os passos e que sobrevive na procura da resposta que se arrasta e foge como um demónio feito sombra, tão perto e tão longe, tão ausente e tão presente…
Sou o que resta de mim! Que fique bem assente, que não é este o meu fim…
Sento-me, a observar o rio, que segue o seu percurso bem tranquilo, em paz, e, quase de surpresa, bem por cima de mim, sinto a lua cheia, de sorriso escorreito e é nessa hora que tenho a certeza que não é este o meu caminho, que não é este o meu preceito. Eu me deleito. Cresço. Grito. Questiono aos ventos, onde anda a felicidade?
É nesse instante, mínimo, que outra voz assume a sua presença. Traz-me a serenidade em cada palavra e a esperança no canto com que se pronuncia. E na leveza do brilho dos meus olhos procuro o teu rosto tão premente…
Descubro-me! Percebo que a felicidade anda dentro de mim, tímida, escondida, carente de se libertar, necessitada de se expandir…
Encontro o caminho. Sentado. Sem dar passos, sem me perder. Sempre estive tão perto e dependente de mim. Levanto-me e corro de braços abertos em direcção ao profundo desejo. Abraço-te felicidade. Abro o meu peito e chamo o teu nome ao vento.


(apenas precisei de um passo para chegar à felicidade)



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