SURREALIDADE

Data 19/10/2008 12:19:39 | Tópico: Poemas -> Reflexão

SURREALIDADE




É conforme vivêssemos encerrados na penitenciária
de um sonho que edifica-se na seara soturna
da indiferença mais intensamente etérea,
fincando-se firmemente
no solo fértil da sofismática infinitude sincera
qual flui e povoa a mente em sua mais que hospitaleira
elevada atmosfera.


Sim, neste horrendamente onírico labirinto de saída ignorada,
é consoante enxergássemos somente
a apocritamente infinita epiderme do caminho
e nunca avançássemos além da distância
anuída pela fronteira do externo tecido.
Sim, pois se a transpuséssemos, veríamos seu cerne:
sua aparência denotativa...a factual forma das coisas.
Então, aí, repousando serena toda a verdade nela escondida,
Afloraria plena.



É como se tivéssemos cérebros robóticos:
havendo alguém que se deleitasse, quando nos fizesse
de boneco,
a nos programar, de maneira, a só acreditarmos no que é
essencialmente tangível,
e desprezarmos a acuidade emanada da sensibilidade
do raciocínio que enxerga o microcosmo macrotizado
da podridão do sublime,
personificada neste pesadelo não percebido.



Efetivamente os olhos de robô
acham críveis o que vêem e lêem:
o sofrer, a dor, a tortura, o ultraje e o holocausto da candura
viram uma expiação assaz merecida.
Merecida aos devotos do delito.
Que delito?
O delito de viver uma vida abrigada em casas quase abortadas?
O delito de viverem como frutos da cromática botânica escrava?
O delito de viverem sendo afogados por oceanos de chagruras?
O delito de serem marcados com a brasa da ausência em ditadu-
ra?

O delito de terem de se levantar e ver o sol: e assim saberem
que mais um dia chegou pra que eles sofram ao se entregar
ao seu pétreo, atroz e árduo diário de labuta?



Não!
Os olhos robóticos olham o olhar superficial
Os olhos robóticos sentem o sentir superficial
Os olhos robóticos ouvem o ouvir superficial
Os olhos robóticos degustam o degustar superficial
Os olhos robóticos cheiram o cheirar superficial
Os olhos robóticos tocam o tocar superficial.
Mas estes olhos não vêem a amagosfera
Mas estes olhos não vêem que nela se encontra a saída
da surreal penitenciária
Mas estes olhos não vêem que a vida só é vida
fora desta maldita miragem factufórmica
Mas estes olhos decididamente não vêem que a vida só é vida
Quando, ao acordarmos, abrimos a janela
e contemplamos o céu solar ou chuvoso pacientemente á nossa
espera, mesmo que já tenhamos talvez perdido a esperança de
encontrá-lo lá fora. De o vermos bater em nossa cara exausta
de não saber o que é a presença de uma manhã ensolarada.
Porfim, por não sabermos que o horizonte do sol se descerra
para nós muito além da janela. O mesmo horizonte a aguardar
a nossa chegada. O horizonte de esperança que a cada dia
se renova tão-só para a aurora da nossa nova jornada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA






Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=57475