
De que falaria eu, senão ...
Data 14/04/2007 18:54:54 | Tópico: Poemas -> Amor
| De que escreveria eu, senão de ti, convenhamos, meu amor… De que matizes delinearia laivos de cor nesta opalina tela, senão de ti, senão de ti, meu amor?..
De que verbos decalcaria um poema, em cada dia, com a noite bordada, senão de ti, meu amor, fome e sede da tua amada?…
Se não de ti, meu amante, meu querido, sentido do meu sentido, que me damejas em lonjuras infindas desde lá, de antigas estradas? Que me amas e me desejas e me envolves em auras de dulcíssimas palavras? De que escreveria eu, meu amado, senão da brandura do teu colo vasto adivinhado? E da tua pele reconhecida nas veias quentes de uma descolorida, inutilizada vida? Senão de ti, meu dilecto amigo, meu cais imbricado de um revoluto navio à deriva, sem destino?
Ah, meu amado, de que viveria a minha pobre poesia senão da iluminura do teu olhar sobre o meu olhar absinto? Se derivam de ti, todos os sentidos que sinto? Se são teus estes olhos que me guiam, Galileus, tais faróis nas noites sem luz, nas ignorâncias da madrugada? E de ti sinto este vai vem de bailado? (Que o teu corpo vagueia, dança, revoluteia, em genésica, épica valsa - em noite de lua nova e lua cheia -, distanciado e tão presente, sobre o meu, de forma persistente).
De que falaria eu, senão dos amplos gestos, de torreões engalanados de afectos, dos teus beijos e afagos? Senão das mais belas, fulgentes constelações, soltas do teu peito amplo, em braços abrangentes? De que falaria eu, meu amado, senão de ti, fantasma de formas desconhecidas, intuídas em todas as madrugadas? De ti, que me és mar, maré e mareante? …
E das nossas bocas ogivadas, flamantes? Das nossas bocas coladas? E dos gemidos ainda virgens, logo soltos, loucos, roucos, do prazer dos nossos corpos reconhecidos, provindos de outras vidas?
De que falaria eu, meu amante, senão do prazer de te ver de boca escancarada, num sorriso triunfante de me saberes tua mulher, de me saberes saciada, de alma e corpo tomada? De te saberes ser de mim a parte e de ti eu a parte ser?
De que falaria eu, senão de nós, convenhamos, meu amor…
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