Aos filhos, a troco de nada

Data 23/10/2008 00:36:59 | Tópico: Textos

Na farsa integral dessa urgência comprometo-me convosco, sentada em cadeira numerada, como num teatro. Vedes anéis nos meus dedos, punhais nos meus olhos, impressões digitais que me espelhem? E o que é meu refluxo, o fel de um rio gasto, reto, retido, que se tornou em açude seco, em cacimba vazia, em norte, em sertão, vedes?
Não vos inquieteis pelo escárnio que vos incapacita os dias, pelo que já me encontrei no avesso de outros. Há uma mera ameaça, mas apenas nos dias que não vos alcançarão: um território manso onde a contravenção impera. Fazei-me o obséquio de sonhar uma ignorância: um gigantesco curral e um boiadeiro só. Vedes?
Porque para ser língua é preciso fio e têmpera; para ser calamidade é preciso ter o caos espetado n’alma; para ser homem é preciso um pensamento sequer, ilegal, amoral, estapafúrdio, confinado no esboço da mente e prestes e lhe morder as grades. Vedes nos meus passos hélio, hidrogênio e estréias mas vosso ponto é de vista, extirpável, por isso caminhai! Tenho para vós um projeto milagroso: acumulai vossos dias de expiações e dizeres; contemplai a ave e a flor em seu momento mais complexo, e desacreditai da harmonia.




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