MEMÓRIAS

Data 28/10/2008 23:56:25 | Tópico: Poemas -> Saudade

Hoje és o bairro,
Suas esquinas, onde esperas
A vida.
Uma menina,
êsse desconhecido familiar
que há em todo homem
que se detém em sua dor.
Um instante

Hoje são estas palavras :
muro, merenda, mãe,
homem e irmão
as que te obrigam
a que por ti e os demais,
a que por todos,
feches a porta da rua.
Ouças a minha mãe
pôr em seu doce semblante
um soluço,
e saia procurando ser tu
que não comestes,
procurando por êle
que contra um muro espera
que alguém venha salvá-lo
procurando ser todos os que um dia
sacudiram a placidez do povo
como o vento sacode as árvores.

A três quadras do nada
Há uma casa
Com suas paredes cheias
de substâncias humides, de portas
e de janelas quebradas.
Ali os quartos congregam
a silenciosa família do pó
sobre a imóvel vasilha,
ali os lírios crescem com a noite
junto aos meninos de saúde delicada.

Ali José: outro carpinteiro
tem o coração apreensivo,
Na camisa e em sua pupila
o caminho feito por uma lágrima.

Ali Francisco, o operário
encontra a saida do trabalho
uma mulher triste sem perspectivas,
um pátio grande em total escuridão,
e um menino que não tem livros.

Ali regressam os homens
pela tarde
pagando por tudo,
o jornal
e o pão que nunca é repartido
para todos.

Porque hás olhado
na quinzena,
no sábado,
aos filhos dos pobres
com suas mãos estendidas
incontestávelmente.




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