 
  
    	Oxalá
    	Data 04/11/2008 17:15:07 | Tópico: Poemas -> Esperança
 
  |  Grita a voz em grito cavo um nome na escuridão.  Mexem-se as gentes no restolho encharcado, pés em botas de borracha que alagam no torrão há pouco seco.  Grita agora mais que uma.  Gritam de desespero.  Um foco de luz varre a escuridão em redor.  Atentam onde colocam os pés. Alaga fácil o terreno, perigosa a empreitada.  Alguém se lembra de ir buscar cavalos e mais lanternas. Voltam atrás meia dúzia de passos, em correria, ouve-se o arfar em peitos sem ar.  A noite está escura, a chuva cai a cântaros, limpam-se os olhos na tentativa de procurar. Ver. Oiço ao fundo da noite o balido do gado. Preso no curral apercebe-se do barulho da azáfama pouco costumeira e nocturna. Reclama. Os cães ladram furiosamente, os homens tentam acalmá-los, mandam-nos calar. Grita a voz em grito agora rouco de tanto gritar. E no barulho da chuva alucinada que cai do céu em jorro imenso de pranto incontido nada mais se ouve que o desassossego de quem procura quem se perdeu. Oxalá me encontrem, penso, tolhida, presa sem coragem para espreitar. Oxalá. 
 
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